MARIA GATO – A Itinerante do Vale.
Maria Gato era solteirona e morava num pequeno sítio próximo a cidade de Piancó (PB). Ela tinha duas grandes paixões na vida: amor por um jovem rapaz chamado Paulo e viajar, apesar de sua idade já avançada. O amor (platônico) que nutria por Paulo não era retribuído, quiçá o rapaz nem soubesse de sua existência. Já andar e viajar, ela curtia todos os dias, no trajeto Piancó / Itaporanga / Conceição, no alto sertão da Paraíba. Por ser muito pobre e sem emprego, não dispunha de dinheiro para suas viagens diárias, nem para um pequeno cafezinho. Tudo era na base da carona e da caridade das pessoas. Ela demorava mais na cidade de Itaporanga, pelo apoio que recebia de minha mãe dona Nevinha, que lhe dava hospedagem, alimentação e a tratava como uma pessoa da família. Em Conceição a demora era pouca, o suficiente apenas até conseguir nova carona de volta pra Itaporanga. Outro detalhe importante era que ao chegar a uma cidade e tivesse um carro para lhe dá carona, ela retornava na mesma hora, sem tempo de tomar sequer um copo d'água. Não tinha nada pra resolver em suas andanças, só a satisfação de viajar, de andar de carro. Dona Nevinha me dá conta que Maria Gato não aceitava carona, em época de eleição, no carro do político que não era seu candidato. Certa vez, ela rejeitou uma carona pelo fato do carro estar a serviço de Dr. Balduíno de Carvalho, então candidato a Deputado Estadual. Ela votava em Dr. Antônio Montenegro. Ela fazia questão de declarar o seu candidato predileto e andava com o santinho na sua bolsa, numa fidelidade a toda prova e prosa. Eleitora fiel de Dona Nevinha de Aristóteles.
Maria Gato só conhecia as 3 cidades: Piancó, Itaporanga e Conceição. Mas como dona Nevinha veio morar em João Pessoa, foi preciso Seu Aristóteles mandar dinheiro pra ela comprar passagens e custear as despesas de táxi pra visitar sua amiga e protetora. Ao chegar à rodoviária em João Pessoa, Maria Gato entrou num táxi e foi logo dizendo: Quero ir pra casa de dona Nevinha de seu Aristóteles. A sorte da viajante foi que ela mostrou o número do telefone da residência de dona Nevinha e o taxista teve a gentileza de buscar informações corretas do endereço. Mas, o mais interessante dessa inusitada viagem, foi quando Maria Gato foi conhecer a praia de Cabo Branco. Ela se benzia várias vezes e agradecia a Deus e a Padre Cícero por ver um açude tão grande. Ficou encantada e afirmou que dava pra aguar muitas plantações de algodão, milho e feijão. Lamentou que na sua região não tivesse tanta água pra ter safra garantida todo ano!!! Foi sua primeira e última viagem além do árido vale sertanejo.
Em suas peregrinações, fazia questão de levar fotos de padre Cícero, que chamava carinhosamente de "Padinho Pade Ciço", de Juazeiro do Norte (CE). Mas sua maior felicidade era participar das caminhadas nas missões de Frei Damião, o qual ela considerava santo. A procissão comandada por Frei Damião começava logo cedinho, alta madrugada, às 3 horas da manhã. Nestes dias das santas missões, ela não dormia dada sua ansiedade pra cantar os louvores e cânticos religiosos, ver e ouvir Frei Damião. Era católica fervorosa. Rezava, cantava e chorava, com emoção e muita fé.
Maria Gato faleceu há mais de 10 anos, mas há quem diga que ela continua suas andanças nas estradas do vale do Piancó, com seu sorriso de criança e suas roupas brancas, levando sempre consigo as fotos de Padre Cícero e Frei Damião...
Extraído do Livro
"REPENTES do CORAÇÃO" – Contos & Poesias
Autor: José Almeida Cavalcanti
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